Cacilda Becker Yáconis nasceu em Pirassununga (SP) em 6 de Abril de 1921, filha de Alzira Yáconis Becker (descendente de alemães) e Edmundo Radamés Becker (descendente de italianos). Irmã de Cleyde e Dirce, acompanhou de perto a separação dos pais, quando tinha apenas nove anos. Com as filhas, a mãe, então, se mudou para Santos e, driblando dificuldades, inscreveu Cacilda num curso de balé e no curso normal, tornando-se professora. Segue, formada, para São Paulo em busca de oportunidade, onde arruma emprego numa seguradora, para depois partir para o Rio de Janeiro sonhando com o palco.
Na então capital da República, fez sua estreia em Hamlet, do bretão William Shakespeare, no Teatro do Estudante, de Paschoal Carlos Magno, e conquistou os palcos. Foram, depois deste começo, 68 montagens teatrais, três filmes (Luz dos Meus Olhos em 1947, Caiçara, em 1950 e Floradas na Serra, em 1954), uma telenovela (Ciúmes, em 1966, na TV Tupi) e inúmeras outras participações em radionovelas e teleteatros. Até, que aos 48 anos, sofreu um derrame cerebral no palco, durante apresentação de “Esperando Godot”, que encenava ao lado de Walmor Chagas, na capital paulista, em 6 de maio de 1969. Mãe de Luiz Carlos Martins (do primeiro casamento com Tito Fleury) e de Maria Clara (adotada com Walmor Chagas, o segundo marido), Cacilda não resistiu e torna-se uma estrela no infinito no dia 14 de junho de 1969. O documentário produzido pela TV Cultura em 2016 narra esta trajetória que tornou Cacilda Becker a referência do teatro brasileiro nas vozes daqueles que conviveram com a estrela, como Walmor Chagas e Flávio Rangel, que a dirigiu no derradeiro espetáculo dos palcos.
Já o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) a imortalizou nos versos de um poema:
A ATRIZ
Carlos Drummond de Andrade
A morte emendou a gramática.
Morreram Cacilda Becker.
Não era uma só. Era tantas.
Professorinha pobre de Pirassununga
Cleópatra e Antígona
Maria Stuart
Mary Tyrone
Marta de Albee
Margarida Gauthier e Alma Winemiller
Hannah Jelkes a solteirona
a velha senhora Clara Zahanassian
adorável Júlia
outras muitas, modernas e futuras
irreveladas.
Era também um garoto descarinhado e astuto: Pinga-Fogo
e um mendigo esperando infinitamente Godot.
Era principalmente a voz de martelo sensível
martelando e doendo e descascando
a casca podre da vida
para mostrar o miolo de sombra
a verdade de cada um dos mitos cênicos.
Era uma pessoa e era um teatro.
Morrem mil Cacildas em Cacilda.