“Quem parte leva a saudade de alguém que fica chorando de dor”
Por Bruno Pereira*
Você com certeza já ouviu a letra a seguir: “Está chegando a hora/ O dia já vem raiando, meu bem/ Eu tenho que ir embora”. Não?! Talvez você até saiba cantarolar… E a continuação no título deste artigo, “Quem parte leva saudades de alguém que fica chorando de dor”? E a seguinte: “Eu tenho uma casinha lá na Marambaia/ Fica na beira da praia, só vendo que beleza”?
As canções cujas letras e melodias você certamente já ouviu são: Tá chegando a hora e Só vendo que beleza. Lançadas no carnaval de 1942, foram ao longo dos anos interpretadas por grandes nomes da música popular brasileira, além de trechos delas terem sido incorporados por práticas populares como canções de torcida de futebol e como refrãos em manifestações políticas. Elas foram compostas pelo sambista paulista Henrique Felipe da Costa, mais conhecido como Henricão, que no último dia 11 de janeiro teria comemorado 113 anos.
Henricão possui uma vasta produção artística, ainda em grande medida desconhecida. Tal vida passou pela atuação variada no meio artístico em modernização ao longo do século XX – o rádio, o teatro, o cinema e o carnaval – entre o Rio e São Paulo, entre as décadas de 1930 e 1950. Sendo as ideias de raça, nacionalidade e modernidade essenciais para a formação dos cenários culturais carioca e paulista do início do século XX, voltar-se para uma abordagem biográfica e etnográfica que borre as fronteiras entre sujeito e sociedade permite vislumbrar aspectos interessantes dessas cidades e período. Também parto da ideia de que se as diferentes modernidades têm relação com a agitação da vida urbana, da reorientação das relações entre os indivíduos, do consumo de novas formas de entretenimento, da emergência de novas identidades, podemos indagar esse processo com ênfase na agência de sujeitos que vivenciaram esses processos. Convido o leitor a uma breve viagem pela formação de um desses sujeitos.
